Tudo já está na natureza e nos animais
A gente acha sempre que precisa buscar respostas complexas bem longe… quando às vezes basta observar um gato.
Sim, um gato.
Ou uma árvore.
Ou uma tartaruga.
A natureza não fica cheia de mil perguntas existenciais.
Ela cresce, vive, morre, recomeça.
Em silêncio.
Em ritmo.
Com uma sabedoria humilde e milenar.
Uma das chaves da nossa paz interior tá aí, bem debaixo do nosso nariz, nesse mundo vivo que a gente deixou meio de lado.
Voltar pra natureza é voltar pra si.
Andar descalço na grama ou na areia é literalmente se reconectar.
A terra não é só um chão: é um carregador.
E todos nós estamos com a bateria piscando em vermelho.

Sério, é um dos prazeres mais simples e mais poderosos que eu conheço.
Só de sentir o chão, a terra, a areia ou até as pedrinhas te lembrando que sim, você tá vivo…
É como ligar de novo na tomada.
Conectado na hora.
À terra.
A você mesmo.
E vamos falar a real: pé foi feito pra andar, né?
Não só pra suar dentro de tênis caríssimos ou ficar espremido em salto alto que parece arma branca.
Eu moro em algumas das praias mais lindas do mundo.
Todo dia eu ando descalço.
De manhã, de noite, depois do café, antes de trabalhar ou meditar.
E todo dia eu vejo gente, geralmente turistas recém-chegados, pagando pra valer pra massagistas locais lixarem os pés.
O objetivo?
Tirar o calo.
Aquele feio, horrível, monstruoso calo que a gente trata como se fosse defeito.
Mas pera aí… o calo é evolução...
É teu corpo dizendo:
« Parabéns meu chapa, você finalmente andou como humano de verdade devia andar. Toma aqui de presente uma sola natural. »
E não, andar descalço não te transforma em "pé-rapado", mendigo caído ou hippie maluco de atravessar a rua.
Pelo contrário: te faz um rebelde firme, um revolucionário do metatarso, um militante do contato real com o mundo.
Então da próxima vez que você ver alguém andando descalço… não pense que ele tá perdido.
Pensa que talvez ele só… entendeu.
E vai lá.
Tira o sapato.
Faz o teste.
Capaz de ganhar um sorrisão e uma vontade louca de nunca mais calçar sapato.
O problema?
Somos filhos do concreto.
Nascidos entre quatro paredes, criados com Wi-Fi em vez do orvalho da manhã.
Matamos uma mosca como se não tivesse valor nenhum.
Pisamos em formiga sem nem perceber que ela tinha um plano, uma missão organizada, talvez até um encontro romântico em miniatura.
E os pássaros?
A gente ainda ouve eles cantarem, mas já não escuta de verdade.
Eles não ficam surtando com aposentadoria, não tomam suplemento, e migram sem Google Maps.
Os bichos não têm nossa mente agitada.
Eles vivem simples.
Comer.
Dormir.
Cuidar dos seus.
Às vezes brincar feliz.
E dormir de novo.
Muito.
Por bastante tempo.
O urso dorme 6 meses.
O gato, 16 horas por dia.
E você, humano apressado?
6 horas num colchão da Ikea entre duas insônias.
Os animais ensinam uma coisa preciosa:
a presença.
Não tem multitarefa no ouriço.
Não tem crise existencial na gazela (bom, só quando cruza com um leão, mas dá pra entender).
Eles sabem viver no corpo.
No ambiente.
No agora.
E se a gente reaprendesse com eles?
Olhar uma abelha trabalhar duro sem nunca reclamar de horário.
Ver um cachorro aproveitar o instante de um raio de sol no chão.
Sentir o vento no rosto como um beijo esquecido do céu.
A natureza é uma enciclopédia silenciosa.
Cada galho que balança, cada nuvem que passa, cada onda que volta, fala com a gente.
Só falta ter ouvido.
E o coração aberto.
Então… respira.
Anda devagar.
Olha pra um fio de grama como se ele tivesse um segredo pra te contar.
E lembra: você veio daí.
Você é isso.
Você é a natureza… de tênis.

andar descalço na grama, na areia, na pedra ou na terra conecta a gente com as vibrações naturais do planeta.
Essa conexão, chamada de “grounding”, tem efeito real no corpo humano.
Por exemplo, quando você chega num país distante com fuso horário puxado, andar descalço na natureza ajuda sua energia a se alinhar com o novo lugar.
Isso pode reduzir os efeitos do jet lag e evitar aqueles dias em que a gente acorda 3h da manhã, quebrado na hora errada.
E o sol então?
O sol… essa fonte de energia inesgotável, a única capaz de ativar a produção de vitamina D no nosso corpo, aquela que aquece o coração dos humanos desde sempre e devolve força e vitalidade.
E no entanto, o que repetem pra gente o tempo todo? «Cuidado com o sol, se proteja!»
Ah é? E quem fala isso?
Talvez os fabricantes de protetor solar, óculos e roupas anti-UV… com a Big Pharma não muito longe atrás.
Vamos ser claros: sem sol não tem fotossíntese, não tem árvore, não tem flor, não tem fruta… resumindo, não tem vida.
E a gente deveria ter medo dele?
Que absurdo.
Os protetores solares são uma armadilha química.
Eles bloqueiam a vitamina D, ferram com nossos hormônios e enchem nosso corpo de disruptores endócrinos.
O sol é precioso pra todos os seres vivos.
Ele traz não só energia vital, mas também alegria, bom humor e ânimo renovado. E ainda fortalece os ossos e aumenta a longevidade.
Aliás, não é irônico ver em certas cidades clínicas de “luminoterapia”?
Gente pagando pra ficar uma hora na frente de uma lâmpada que imita os raios do sol.
É pra rir ou pra chorar, né?
Outro paradoxo engraçado: na Europa, quanto mais bronzeado, mais valorizado você é – sinal de que tem tempo livre pra curtir o sol.
Na Ásia, é o contrário: bronzeado lembra camponês de lavoura, e as classes ricas se protegem obsessivamente do sol pra manter a pele o mais clara possível.
Duas visões opostas do mesmo astro, mas sempre ditadas por normas sociais sem sentido.
Então, o sol: amigo ou inimigo?
Pra quem ainda tem um mínimo de discernimento, a resposta é óbvia.
Tomando um banho de sol, não tem necessidade dos “suplementos caros” deles...
A dimensão do tempo
Quando a gente para… mas de verdade.
Quando faz uma pausa de verdade, sem tela, sem barulho, sem meta pra cumprir, sem performance pra alcançar.
Quando respira fundo, olha ao redor e sente o corpo no agora… alguma coisa muda.
É como se o tempo, esse tirano invisível, resolvesse de repente relaxar também.
Ele se acalma.
Ele se estica.
Ele boceja.
E cochicha pra gente:
« Finalmente. Você tinha me cansado correndo atrás de mim sem parar. »
Imagina que você tem “todo o tempo do mundo” pela frente…
Não porque se aposentou numa ilha da Tailândia com uma rede (embora, né), mas porque retomou o controle desse recurso sagrado.
Porque o tempo não foge da gente: a gente é que entrega.
A gente deixa escapar de tanto querer “fazer”.
Nos templos budistas voltados pra estrangeiros, ensinam que chega um momento em que você tem que dizer «Eu cheguei».
E é verdade: quando a gente repete isso, algo muda no cérebro, tudo se acalma.
De tanto acreditar que precisamos merecer nosso lugar aqui enchendo a agenda, viramos máquinas de marcar caixinhas.
E correndo atrás de minutos, horas, prazos, acabamos não vivendo nenhum desses minutos.
Eles escorrem como água do chuveiro quente demais enquanto a cabeça já tá na reunião das 11h.
Tem relógio em todo lugar.
Na parede, no carro, no micro-ondas, no celular, no pulso.
Tem gente que olha até o relógio inteligente pra saber se tá dormindo direito.
Inventamos o cúmulo: ficar apressado até dormindo.
A real é que essa corrida já tá perdida.
Não leva a lugar nenhum.
Só leva a mais cansaço, mais frustração, mais “não tenho tempo”.
Mas se você não tira tempo pra viver, então… qual é a razão de estar aqui?
Reaprender a não fazer nada, esse é o luxo revolucionário.
Se permitir olhar uma nuvem passar, andar sem objetivo, ficar deitado sem culpa, respirar como se fosse importante (spoiler: é).
Retomar a posse da dimensão do tempo é também retomar posse de si mesmo.
Não é fugir do mundo. É voltar pra ele com mais presença.
Então, pra todos os apressados do mundo: larguem a mochila.
Tirem o relógio.
Andem descalços.
E façam uma coisa louca: respirem.

A regra era simples: ficar totalmente no momento que eu tava vivendo.
E toda vez que eu me afastasse, perceber e voltar.
Foi ao mesmo tempo difícil e incrivelmente rico.
Descobri o quanto minha mente buscava, quase de forma compulsiva, se desligar do agora.
Meu celular, claro, mas também mil outras fugas: álcool e drogas, compras, gastos inúteis, comida em excesso, ou ainda críticas contra mim mesma e aquelas espirais de pensamentos negativos.
Todo um arsenal de micro-fugas que eu nem percebia mais.
Me trazer pro presente era como abrir mão desses anestésicos, encarar o que tinha por trás: tédio, tristeza, raiva, todas essas emoções desconfortáveis que eu evitava fazia anos.
Percebi também a quantidade absurda de vezes – em só um dia – em que eu só queria que o tempo passasse… em vez de viver ele.
Mas encarando isso de frente, abri outras portas.
Escrevi, desenhei, cantei.
Andei horas pela cidade só pra observar como se fosse a primeira vez.
Aprendi a me ocupar como criança, com o que tava ali, ao meu redor.
E principalmente, encontrei partes de mim mesma que esperavam há anos eu finalmente olhar pra elas.
Essa experiência me mostrou que, mesmo se a presença radical não pode virar um estilo de vida permanente – muito exigente, muito absoluto – ela me deu uma chave.
A chave de trazer mais presença pro meu dia a dia.
E recuperei um pouco mais de “posse do tempo”, pra habitar de verdade cada minuto…
Liberar espaço, fazer o vazio
É uma velha lei do universo, conhecida desde sempre: o vazio atrai o cheio.
O universo odeia o vazio.
Assim que aparece um buraco, uma brecha, uma abertura, ele manda algo pra preencher.
Um encontro, uma ideia, uma energia, uma mudança inesperada.
É o jeito dele dizer: « Ah olha só, você limpou um pouco, vou te mandar coisa nova. »
Mas aí vem o problema: a gente guarda tudo.
Guardamos lembranças, dores antigas, ex mal resolvidos, crenças velhas, roupas que não cabem desde 2007, arquivos na área de trabalho que nunca vamos abrir… e depois reclamamos que nada novo aparece.
Claro, não tem espaço.
É como querer plantar uma roseira num vaso já cheio de cactos secos e pedras do passado.
Liberar espaço não é só arrumar o armário ou limpar a caixa de e-mail (mesmo que isso ajude também).
É ter coragem de abrir espaço por dentro.
Fazer o vazio emocional.
Soltar os pensamentos que rodam em loop como hamster no café.
Fazer triagem nas relações, nos hábitos, nos “tenho que” e nos “devo” que sufocam.
E aí… milagre.
Rola um negócio.
Um sopro.
Uma clareza.
Uma disponibilidade.
O universo entra.
Se infiltra nas brechas que você abriu, trazendo presentes muitas vezes inesperados.
Mas pra isso funcionar, tem que ousar não fazer nada.
Sim, você entendeu certo.
Não fazer nada.
Nem meditar, nem ler, nem escrever, nem rolar feed. Só… nada.
Como um terreno em descanso, deixado quieto pra vida retomar o espaço.
Porque no fundo, não é no excesso que a gente fica forte.
É no espaço.
Nesse vazio sagrado onde, enfim, algo verdadeiro pode entrar.

Quando pede pra vida trazer o novo, esteja pronto(a) pra abrir espaço.
Quer uma versão melhor de você?
Novas oportunidades?
Mais grana?
Uma mentalidade diferente?
Então esteja pronto(a) pra largar um trabalho que não te eleva mais, sair da zona de conforto pra conhecer outras pessoas, tentar o que nunca teve coragem de fazer.
A vida sempre exige uma troca: pra receber, você precisa soltar o que não cabe mais no seu futuro.
É aí que muitos travam: querem mais, sem soltar nada em troca.
A gente pensa: “Quando eu tiver, vou poder, e aí vou ser.”
A verdade é o contrário: Você é.
E porque você é, você tem.
E porque você tem, você se torna.
Redefinir suas necessidades
E se você fizesse uma pausa… só pra se perguntar:
Do que você realmente precisa pra ser feliz?
Não o que a sociedade diz.
Nem o que seus pais esperavam de você.
Não, você.
Você, aqui e agora.
Pega um papel.
Anota.
O que é vital pra você?
Beber, comer, dormir.
Ok, estamos de acordo.
Mas depois, o que vem do coração de verdade?
- Ter laços humanos, conexões de verdade
- Mexer o corpo, respirar, fazer esporte
- Rir com seus filhos e amigos
- Sentir que você é útil, criativo, livre
- Ter um gato zen no colo
- Ou trabalhar 70h/semana por uma Rolex? (não, aí é seu ego falando…)
E todo o resto?
Todos esses objetos que lotam sua casa?
Esse sofá que mal dá coragem de usar?
Essas roupas que você não veste mais?
Essa estante cheia de livros que nunca vai ler?
Isso tudo te alimenta… ou te pesa?
Seja honesto: talvez esse excesso seja justamente o que te trava, o que te impede de recomeçar em outro lugar, mais leve.
Então… o que você guardaria se tivesse que recomeçar do zero?

Sim, eu sou esse cara quase sempre descalço que assusta a galera.
Faz quase 3 anos que tô “na estrada” pela Ásia e percebi uma coisa: preciso de muito pouco/quase nada pra estar bem.
Minha mochila? É minha casa no ombro.
Ela tem o essencial:
- Algumas roupas pra variar o look (meio estilo nômade),
- Minha mosquiteira (indispensável contra visitantes indesejados),
- Um pouco de corda e ganchos…
- Meu pc (porque né, tem que trabalhar…),
- Meus cabos e carregadores (óbvio),
- Vitaminas e sais minerais pra ficar no topo mesmo depois de 2h de padel no solão.
21 quilos de tralha, pesado e aprovado.
Desde 3 anos.
Virei um ninja da des-consumação: nada de plástico, nada de compras inúteis, nada pra jogar fora.
E adivinha? Eu também costuro.
Isso mesmo. Quando um short rasga ou uma camiseta tenta fugir, pego agulha e linha e pronto, consertado.
Porque já que é pra viver leve, que seja com estilo… e uns pontos de costura bem feitos.

Você já conheceu o brilho, as casas luxuosas, os carros de luxo, todos esses bens materiais… e no fim, nada disso te fez feliz.
Aí você questionou tudo isso, se perguntou de verdade, e graças ao seu trabalho, sair viajando nunca foi problema.
E é isso que eu desejo a todos: a liberdade de fazer e amar o que quiser.
Tem videntes super sofisticadas, com unhas postiças e carrão, e tem gente espiritual que cheira coca no fim de semana.
Tanto faz: cada um devia ser livre, sem ficar preso em caixinhas. Contanto que haja respeito profundo pelo outro, pela natureza e pelos animais, muito amor, e vontade de ser uma pessoa melhor a cada dia, não vejo mal nenhum em misturar mundos que a sociedade chama de “incompatíveis”.

Eu, por exemplo, sofri às vezes vendo meu pai se desfazer de tudo, sem dar valor ao passado ou à ligação afetiva com os objetos.
Na infância, mudávamos de casa quase todo ano.
Os móveis, as roupas, tudo acompanhava esse movimento constante.
De um lado, isso me deu uma incrível capacidade de adaptação: não dependo do que possuo pra me sentir inteira.
Mas do outro, tenho um desejo: o de ter coisas que foram suas, pai.
Objetos trazidos das suas viagens, cheios de histórias, fragmentos materiais de você, que me deixariam te conhecer de outra forma que não só pelas palavras ou atos.
Eu sei, e aceitei, que isso não é você.
Você é livre demais pra possuir, em movimento demais pra acumular.
E respeito profundamente essa liberdade.
Mas eu escolhi outro caminho.
Não tenho muita coisa: só umas caixas guardadas em Amsterdã.
Mas o que tem nelas é precioso.
Não pelo valor material, mas pela memória que mantêm viva.
Tem a guitarra elétrica assinada pelo Kool and the Gang, a almofada de meditação da mamãe, um baobá de Madagascar, um backgammon gigante do Egito, e algumas roupas de brechó que, espero, alegrem minhas filhas se um dia eu tiver.
Esses objetos contam minha história.
Ligam minhas raízes ao meu presente e, talvez, ao meu futuro.
Claro que poderia viver sem.
Mas escolho guardar o material que conta de verdade pra mim.
Porque no fundo, fazer o vazio não é apagar.
É discernir.
E pra mim, esses fragmentos são tanto âncoras quanto tesouros.